Desta vez, o local escolhido para a
passarinhada foi a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Gargaú, com uma
área de 1.058 ha, que está inserida em uma matriz de canaviais e poucos
fragmentos de vegetação secundária. Localizada no município de Santa Rita -
Paraíba, (25 km da capital João Pessoa) sua entrada é permitida por meio de
autorização prévia.
Mapa da área da RPPN Gargaú Santa Rita-PB.
Imagem adaptada do Google Earth
Saímos de casa no dia 01/01/2015 por
volta das 5 horas da manhã. Nosso ponto de encontro foi o posto Almeidão, onde o
amigo Murilo Arante, nos guiaria até a RPPN. Link do trajeto percorrido
elaborado no Wikiloc. (link
wikiloc)
Ao chegarmos, estacionamos o carro na
borda da mata (cuidado pois passam muitos treminhões na pista, deixem em um
cantinho seguro) e logo vimos suiriri (Tyrannus melancholicus), chorozinho-de-asa-vermelha
(Herpsilochmus rufimarginatus) e sanhaçu-cinzento (Tangara sayaca).
Entrando na mata, registramos maria-de-barriga-branca (Hemitriccus
griseipectus, tico-tico-de-bico-preto (Arremon taciturnus), e
pipira-vermelha (Ramphocelus carbo); todos devidamente anotados na nossa
listinha do dia.(link eBird)
Paramos no ponto de alimentação para
macacos, instalado por alunos da UFPB que desenvolvem pesquisa com o
macaco-prego-galego (Sapajus flavius). Como eles não apareceram, nossa
mastozoologa preferida Nathália Canassa (Nathy) fez uma performance
perfeita.
Depois de algumas risadas seguimos na
trilha e gravamos o áudio da Juruviara (Vireo chivi), que
apesar de ser uma espécie comum na região, ainda não tinha registro no wikiaves
para este município. (link wikiaves)
Um pouco adiante registramos o
surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui) e alma-de-gato (Piaya
cayana). Seguimos na trilha e escutamos um bando de rendeira (Manacus
manacus) fazendo lek: um comportamento reprodutivo geralmente
observado em Pipridae. A Rendeira, como o próprio nome diz, produz estalos
provocados pelos movimentos das asas que lembram o barulho que as rendeiras
fazem quando estão bordando. Como sempre, essa espécie deu um show e
conseguimos lindas fotos, acho que elas querem virar nosso mascote nas
passarinhas rsrsrsrsrs.
Registro da rendeira (Manacus manacus).
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Um pouco mais a frente escutamos o
chororó-didi (Cercomacra laeta) que não deixou por menos e também deu
seu show. Todas conseguiram fotografar!.
Registro do chororó-didi (Cercomacra laeta)
por todas as participantes da passarinhada.
Fizemos uma pausa para lanchar, mas
tivemos que continuar ligadas, pois uma das penélopes quase sofria um acidente
com essas “amiguinhas” que são da espécie taturana obliqua (Lonomia obliqua)
e possuem um veneno que não é letal, porém causam prejuízos dolorosos. Afinal,
na natureza os organismos precisam se defender de alguma forma! É sempre bom
lembrar que dentro da mata não podemos sair encostando ou sentando em qualquer
local sem observar, não é, Nayla!?
Taturana
obliqua (Lonomia obliqua).
Uma parada obrigatória para foto das Penelopes
(em breve uniformizadas com nossa própria blusa).
Também tem foto com quem acompanha as Penelopes
(Murilo à esquerda e o mateiro Francisco à direita).
Depois das fotos, caminhamos por uma
trilha e registramos gavião pedrês (Buteo nitidus) e Curica (Amazona
amazonica). Sempre fazemos gravações de áudio durante a passarinhada, pois
como nossos ouvidos estão em estágio de aprendizado, passamos por vocalizações
sem perceber de qual espécie se trata. Desta forma, acrescentamos a lista mais
um registro novo no wikiaves para área, o balança-rabo-de-bico-torto (Glaucis
hirsutus).(link wikiaves)
Por todo o percurso procuramos pelo
barranqueiro-do-nordeste (Automolus lammi), espécie endêmica da
Mata Atlântica e ameaçada de extinção, mas infelizmente não escutamos sua
vocalização e não registramos nesta passarinhada. Uma penélope de Recife, Lays
Viturino de Freitas, foi a Gargaú agora em março acompanhando um colega de
laboratório da UFPE onde conseguiram registrar a espécie, segue abaixo seu
relato:
“Nosso objetivo era localizar o
barranqueiro-do-nordeste (Automolus lammi), ele demorou para
aparecer e quando deu as caras, foi bem rápido. Só deu tempo de Yuri (colega de
laboratório) gravar os momentos finais do canto dele e logo em seguida a ave
foi embora. Não podíamos ligar o playback para atraí-lo, pois estragaria os pontos
de escuta (metodologia aplicada na pesquisa que estava sendo realizada), então
seguimos a trilha e quando já estávamos nas réplicas, um segundo bicho apareceu
a menos de vinte metros de distância, e nós o atraímos para mais perto, onde
ele ficou todo lindinho pousado num galho. Consegui gravar um bom canto dele.
Com alguns minutos ele se foi, pois alguns saguis estavam se aproximando do local
e achamos melhor não chamá-lo de volta. (link wikiaves)
Enquanto realizávamos o ponto de escuta,
e nada do barranqueiro-do-nordeste (Automolus lammi) aparecer, fomos
recompensados com registros incríveis do macaco-prego-galego (Sapajus
flavius). De repente, estamos andando na trilha e eu só vejo aquele negócio
amarelo enorme (Ok, tá mais pra tamanho médio, mas não é todo dia que se vê um
primata maior que um sagui por aí se movendo, e eu fiquei toda encantada com o
grupo deles.) lá na frente. É claro que fomos pra perto deles (com cautela, mas
ficamos ansiosos pra vê-los de perto.). Eles ficaram por um bom tempo nos
encarando e quando percebemos, havia macacos por todos os lados. Foi nesse
momento que eu dei a ideia de sairmos dali de fininho...uahuahuaha.”
Equipe na segunda ida a RPPN Gargaú
Voltando a passarinhada do grupo das Penélopes,
esse dia parece que não rendeu tanto quanto imaginávamos, e assim, pudemos
aprender que devemos fazer um reconhecimento prévio das áreas que não
conhecemos para que elas sejam bem exploradas. Mesmo com todos os percalços
nossa lista obteve um total de 25 espécies (pode não parecer muito, mas ficamos
contentes com o resultado, afinal somos principiantes).(link eBird)
Outro ponto que observamos é como a
nossa Mata Atlântica Nordestina está invadida de cana-de-açúcar (este fragmento
que visitamos está ilhado por canaviais...) e é muito triste saber que tudo
aquilo um dia foi uma mata imensa lotada de bichos, que hoje, os que sobraram,
estão lutando para sobrevier nesses pequenos espaços e pelo rumo que tem tomado
o nosso país, sem uma preocupação mínima com a preservação do meio ambiente, a
coisa tende só a piorar!
Fotos: Nayla Nascimento, Magna Marinho,
Cristine Prates, Nathália Fernandes.
Agradecimentos:
- Murilo Arante pela companhia e paciência;
- Mateiro Francisco por nos conduzir nas
trilhas;
- Ciro Albano pela identificação das
vocalizações gravadas;
- Rayanne Vilarim pela edição do texto.
- Toda equipe da RPPN Gargaú que autorizou nossa passarinhada.
Show. Parabéns, meninas. Muitas passarinhadas ainda ão de vir.
ResponderExcluirObrigada Adeilson por curtir nossos relatos das passarinhadas, ficamos felizes :D
ResponderExcluirGostaria do contato do pessoal da reserva. Alguém consegue por favor?
ResponderExcluirÉ infelizmente o que eu posso dizer é que em breve teremos a referência de um deserto brasileiro, formado principalmente pelos estados da PB e RN. Uma pena como destruíram toda a vegetação. Posso afirmar isso pelas história de 80 anos atrás contadas pelo meu pai, depois de 45 anos atrás que vivenciei pessoalmente e comparo com o que vejo nos dias de hoje. É de dar dó.
ResponderExcluirOi Lays tudo bem??? Sou Luciano Zinn da Ribeira Adventure Club aqui na Ribeira, Santa Rita,PB. Somos um Clube voltado para os esportes de aventura em meio a natureza e gostaria de trocar experiências com vcs. Meu contato é zap 083 9 9805.6105 ou ribeiraadventureclub@hotmail.com ou ainda pelo Blog: ribeiraadventureclub.blogspot.com. abraços
ResponderExcluirOlá Lays, boa noite.
ResponderExcluirVocê tem algum contato do engenho que poderia repassar?
Gostaria de visitá-lo.
Obrigado,
Vladimir