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domingo, 8 de março de 2015

Engenho Gargaú – Santa Rita - Paraíba

Desta vez, o local escolhido para a passarinhada foi a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Gargaú, com uma área de 1.058 ha, que está inserida em uma matriz de canaviais e poucos fragmentos de vegetação secundária. Localizada no município de Santa Rita - Paraíba, (25 km da capital João Pessoa) sua entrada é permitida por meio de autorização prévia.

Mapa da área da RPPN Gargaú Santa Rita-PB. Imagem adaptada do Google Earth

Saímos de casa no dia 01/01/2015 por volta das 5 horas da manhã. Nosso ponto de encontro foi o posto Almeidão, onde o amigo Murilo Arante, nos guiaria até a RPPN. Link do trajeto percorrido elaborado no Wikiloc. (link wikiloc) 

Ao chegarmos, estacionamos o carro na borda da mata (cuidado pois passam muitos treminhões na pista, deixem em um cantinho seguro) e logo vimos suiriri (Tyrannus melancholicus), chorozinho-de-asa-vermelha (Herpsilochmus rufimarginatus) e sanhaçu-cinzento (Tangara sayaca).  Entrando na mata, registramos maria-de-barriga-branca (Hemitriccus griseipectus, tico-tico-de-bico-preto (Arremon taciturnus), e pipira-vermelha (Ramphocelus carbo); todos devidamente anotados na nossa listinha do dia.(link eBird)


Paramos no ponto de alimentação para macacos, instalado por alunos da UFPB que desenvolvem pesquisa com o macaco-prego-galego (Sapajus flavius). Como eles não apareceram, nossa mastozoologa preferida Nathália Canassa (Nathy)  fez uma performance perfeita.
               Nathália Canassa na performance 


Depois de algumas risadas seguimos na trilha e gravamos o áudio da Juruviara (Vireo chivi), que apesar de ser uma espécie comum na região, ainda não tinha registro no wikiaves para este município. (link wikiaves)


Um pouco adiante registramos o surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui) e alma-de-gato (Piaya cayana). Seguimos na trilha e escutamos um bando de rendeira (Manacus manacus) fazendo lek: um comportamento reprodutivo geralmente observado em Pipridae. A Rendeira, como o próprio nome diz, produz estalos provocados pelos movimentos das asas que lembram o barulho que as rendeiras fazem quando estão bordando. Como sempre, essa espécie deu um show e conseguimos lindas fotos, acho que elas querem virar nosso mascote nas passarinhas rsrsrsrsrs.
                                                                                                                Registro da rendeira (Manacus manacus).
Um pouco mais a frente escutamos o chororó-didi (Cercomacra laeta) que não deixou por menos e também deu seu show. Todas conseguiram fotografar!.


Registro do chororó-didi (Cercomacra laeta) por todas as participantes da passarinhada.

Fizemos uma pausa para lanchar, mas tivemos que continuar ligadas, pois uma das penélopes quase sofria um acidente com essas “amiguinhas” que são da espécie taturana obliqua (Lonomia obliqua) e possuem um veneno que não é letal, porém causam prejuízos dolorosos. Afinal, na natureza os organismos precisam se defender de alguma forma! É sempre bom lembrar que dentro da mata não podemos sair encostando ou sentando em qualquer local sem observar, não é, Nayla!?
Taturana obliqua (Lonomia obliqua).
Uma parada obrigatória para foto das Penelopes (em breve uniformizadas com nossa própria blusa).
Também tem foto com quem acompanha as Penelopes (Murilo à esquerda e o mateiro Francisco à direita).

Depois das fotos, caminhamos por uma trilha e registramos gavião pedrês (Buteo nitidus) e Curica (Amazona amazonica). Sempre fazemos gravações de áudio durante a passarinhada, pois como nossos ouvidos estão em estágio de aprendizado, passamos por vocalizações sem perceber de qual espécie se trata. Desta forma, acrescentamos a lista mais um registro novo no wikiaves para área, o balança-rabo-de-bico-torto (Glaucis hirsutus).(link wikiaves) 
Por todo o percurso procuramos pelo barranqueiro-do-nordeste (Automolus lammi), espécie endêmica da Mata Atlântica e ameaçada de extinção, mas infelizmente não escutamos sua vocalização e não registramos nesta passarinhada. Uma penélope de Recife, Lays Viturino de Freitas, foi a Gargaú agora em março acompanhando um colega de laboratório da UFPE onde conseguiram registrar a espécie, segue abaixo seu relato:

Nosso objetivo era localizar o barranqueiro-do-nordeste (Automolus lammi), ele demorou  para aparecer e quando deu as caras, foi bem rápido. Só deu tempo de Yuri (colega de laboratório) gravar os momentos finais do canto dele e logo em seguida a ave foi embora. Não podíamos ligar o playback para atraí-lo, pois estragaria os pontos de escuta (metodologia aplicada na pesquisa que estava sendo realizada), então seguimos a trilha e quando já estávamos nas réplicas, um segundo bicho apareceu a menos de vinte metros de distância, e nós o atraímos para mais perto, onde ele ficou todo lindinho pousado num galho. Consegui gravar um bom canto dele. Com alguns minutos ele se foi, pois alguns saguis estavam se aproximando do local e achamos melhor não chamá-lo de volta. (link wikiaves)

Enquanto realizávamos o ponto de escuta, e nada do barranqueiro-do-nordeste (Automolus lammi) aparecer, fomos recompensados com registros incríveis do macaco-prego-galego (Sapajus flavius). De repente, estamos andando na trilha e eu só vejo aquele negócio amarelo enorme (Ok, tá mais pra tamanho médio, mas não é todo dia que se vê um primata maior que um sagui por aí se movendo, e eu fiquei toda encantada com o grupo deles.) lá na frente. É claro que fomos pra perto deles (com cautela, mas ficamos ansiosos pra vê-los de perto.). Eles ficaram por um bom tempo nos encarando e quando percebemos, havia macacos por todos os lados. Foi nesse momento que eu dei a ideia de sairmos dali de fininho...uahuahuaha.”
Equipe na segunda ida a RPPN Gargaú

Voltando a passarinhada do grupo das Penélopes, esse dia parece que não rendeu tanto quanto imaginávamos, e assim, pudemos aprender que devemos fazer um reconhecimento prévio das áreas que não conhecemos para que elas sejam bem exploradas. Mesmo com todos os percalços nossa lista obteve um total de 25 espécies (pode não parecer muito, mas ficamos contentes com o resultado, afinal somos principiantes).(link eBird)


Outro ponto que observamos é como a nossa Mata Atlântica Nordestina está invadida de cana-de-açúcar (este fragmento que visitamos está ilhado por canaviais...) e é muito triste saber que tudo aquilo um dia foi uma mata imensa lotada de bichos, que hoje, os que sobraram, estão lutando para sobrevier nesses pequenos espaços e pelo rumo que tem tomado o nosso país, sem uma preocupação mínima com a preservação do meio ambiente, a coisa tende só a piorar!
Canavial e treminhões na pista.

Fotos: Nayla Nascimento, Magna Marinho, Cristine Prates, Nathália Fernandes.

Agradecimentos:
  • Murilo Arante pela companhia e paciência;
  • Mateiro Francisco por nos conduzir nas trilhas;
  • Ciro Albano pela identificação das vocalizações gravadas;
  • Rayanne Vilarim pela edição do texto.
  • Toda equipe da RPPN Gargaú que autorizou nossa passarinhada.





6 comentários:

  1. Show. Parabéns, meninas. Muitas passarinhadas ainda ão de vir.

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  2. Obrigada Adeilson por curtir nossos relatos das passarinhadas, ficamos felizes :D

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  3. Gostaria do contato do pessoal da reserva. Alguém consegue por favor?

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  4. É infelizmente o que eu posso dizer é que em breve teremos a referência de um deserto brasileiro, formado principalmente pelos estados da PB e RN. Uma pena como destruíram toda a vegetação. Posso afirmar isso pelas história de 80 anos atrás contadas pelo meu pai, depois de 45 anos atrás que vivenciei pessoalmente e comparo com o que vejo nos dias de hoje. É de dar dó.

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  5. Oi Lays tudo bem??? Sou Luciano Zinn da Ribeira Adventure Club aqui na Ribeira, Santa Rita,PB. Somos um Clube voltado para os esportes de aventura em meio a natureza e gostaria de trocar experiências com vcs. Meu contato é zap 083 9 9805.6105 ou ribeiraadventureclub@hotmail.com ou ainda pelo Blog: ribeiraadventureclub.blogspot.com. abraços

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  6. Olá Lays, boa noite.
    Você tem algum contato do engenho que poderia repassar?
    Gostaria de visitá-lo.

    Obrigado,
    Vladimir

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