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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Flona do Jamari

Para você que vem acompanhando nossas postagens, ou você que vai ler pela primeira vez, o texto de hoje é um pouco diferente do que costumamos contar, ou seja, não vamos contar sobre uma de nossas passarinhadas, mas de uma experiência que eu NatháliaF. Canassa tive em uma consultoria de ornitologia na Flona do Jamari, na Cidade de Itapuã do Oeste- RO. Para você não ficar questionando o que uma mastozoóloga foi fazer em um campo de ornitologia, já deixarei bem claro que antes estava fazendo consultoria de masto, ou seja, trabalho com mamíferos e me ofereci para auxiliar o Prof. Dr. Ricardo Krul, Coordenador do Laboratório de Ornitologia do Centro de Estudos do Mar da UFPR, pois queria conhecer as aves que habitam o oeste da Amazônia e como uma boa Penelope que se preze, observar vários bichos e fazer lifers. Enfim, como se tratava de uma consultoria, tínhamos que seguir uma metodologia. Acordávamos todos os dias às 4h30min da manhã, e infelizmente nossas trilhas eram distantes de onde estávamos, então a gente tinha que sair no máximo às 5h, já que nosso trabalho tinha rendimento das 6h da manhã até às 10h. Os horários para mim eram o de menos, pois eu só torcia para que no meio do caminho víssemos uma onça-pintada (Panthera onca). Conseguimos ver apenas um dia de tarde quando fomos pescar, passando correndo na nossa frente, mas uma pena, pois não deu para fotografar. Durante a amostragem, o Prof. Dr. Ricardo gravava as vocalizações dos bichos e anotava na caderneta, enquanto me ensinava os nomes científicos e os cantos para eu aprender. Ouvimos bastante os cantos do chororó-negro (Cercomacra nigrescensis), do capitão-do-mato ou cricrió (Lipaugus vociferans), surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus), surucuá-de-cauda-preta (Trogon melanurus), surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucuí) e mais um monte que não me recordo. Com toda minha experiência em “ornito”, ou seja, nenhuma, eu ficava prestando atenção para que no próximo ponto eu pudesse ajudar, mas o máximo que eu conseguia fazer era dizer “esse canto eu ouço bastante quando estou fazendo censo” ou “esse eu já ouvi também, parece um que tem lá na Paraíba” (obrigada meninas pelas passarinhadas, vocês eram sempre lembradas) ou “mentira que esse canto é desse bicho, sempre que ele canta me assusta ou assusta meus bichos, os mamíferos”. Um exemplo é com o udu-de-bico-largo (Electron platyrhynchum)), pois eu sempre queria saber que bicho era esse que ficava “udu...udu...” e como eu tinha raiva dele.


 
udu-de-bico-largo (Electron platyrhynchum)
                                                  
 Quando tive a oportunidade de vê-lo, não esperava que fosse tão bonito e finalmente havia conseguido a foto de uma ave. Não ficou do jeito que eu gostaria, mas valeu o registo (eu acho). Além de tentar ajudar através das vocalizações, eu queria mesmo era ver as aves, então, sempre que via algo voando sobre a minha cabeça, eu ia na mesma direção e acabava não vendo. Nunca vi  bichos tão difíceis de serem fotografados.  Isso às vezes me irritava, no entanto, eu não podia esquecer que quem estava do meu lado era um ornitólogo e toda vez que o Ricardo ouvia um bicho bonito ou uma ave diferente, que seria ótimo para tirarmos uma foto, ele usava o playback. Lembro que o primeiro bicho no primeiro dia que respondeu bem, mas fez a gente de “bobo”, foi o surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus), cuja foto ficou linda #SQN, só apareceu a barriga dele #chatiada. Por outro lado, teve um dia que o papa-formiga-pardo (Formicivora grisea), depois de uma hora (não estávamos mais no horário de trabalho) deixou a gente fotografá-lo, só que a foto ficou mais ou menos. Já para outras aves nem foi preciso muito esforço, como a ariramba-do-paraíso (Galbula dea), que de tão quietinha que ficou, permitiu muitas fotos e o meu “mas” de agora é que o céu estava horrível, na verdade, minhas fotos só não ficaram melhores por conta do tempo, todos os dias nublados. 


 papa-formiga-pardo (Formicivora grisea)
                                                     

 ariramba-do-paraíso (Galbula dea)
                                                        

Nessa consultoria eu creio ter começado a gostar de pica-paus. Acho que foi porque era o único bicho que eu sabia quem era, por estar ali apenas “bicando” o tronco de uma árvore, sabia que era um pica-pau, mas não sabia qual pica-pau era. Daí, eu sempre ia procurar em qual árvore ele poderia estar para eu poder vê-lo, e como sempre era em vão, eu chegava a ficar com dor no pescoço de tanto que olhava pra cima, até não escutar mais as batidas no tronco. Na sequência, eu ouvi um canto, eu olhei para o Ricardo e disse “que ave é essa? A gente ainda não ouviu né?” e simplesmente ele respondeu: “Já sim! É o fulano (só que em nome científico), aquele pica-pau que você estava procurando”! Lá ficava eu com cara de tacho, mas tudo bem, pelo menos acho que era empolgada. Enquanto o Ricardo ficava gravando, o silêncio era crucial, na verdade era para ser. Às vezes eu não percebia que ele estava gravando e ficava procurando alguma ave diferente em um local bacana para que eu pudesse fotografar. Quando eu via uma, meus olhinhos brilhavam, sorrisão na orelha e dizia: “Ricardo, estou vendo aquele que você me disse” ou “eu viii, ele é pretinho” ou “esse eu nunca vi, que bicho é esse?” Como vocês podem ver, eu não falava os nomes das aves, nem o popular e muito menos o científico, acho complicado. Na verdade, são piores que os nomes científicos de mamíferos, porém um ou outro eu sabia, como o chora-chuva-de-cara-branca (Monasa morphoeus) e o chora-chuva-preto (Monasa nigrifrons), essas duas espécies de tanto que a gente vê, consegui aprender a identificá-los. Se fossem animais terrestres a gente andava chutando. As araras-canindé (Ara ararauna), danadas, que às vezes me davam susto ou atrapalhavam as gravações, pior do que eu. O gavião-pedrês (Buteo nitidus), pois todo gavião que eu via, eu falava que era ele e a maioria era, acho que ele me perseguia, por isso se tornou meu xodó, ainda não consigo distinguir o canto de um gavião para outro, para mim ainda continua a soar tudo igual. O último que eu me lembro de saber dizer tanto o nome popular quanto o científico é a rendeira (Manacus manacus), na hora só soube dizer quem era pois estavam fazendo lek e olha aí as Penelopes me ajudando mais uma vez. Aprendi em uma passarinhada na Mata do Pau Ferro. Mais uma vez eu agradeço e como sempre, SEM FOTO, o mutum cavalo (Pauxi tuberosa), o jacu-de-spix (Penelope jacquacu) e o jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis). Esses três eu sou obrigada a saber, pois anotamos eles em censo, e na estrada mesmo a gente consegue ver. O mutum é folgado, não sai da frente do carro por nada, o jacu escandaloso dá susto (eu levo muito susto), o jacamim é mais difícil de ver, mas um dia uma família ficou passando na nossa frente na estrada, só que rápido, ou seja, minhas fotos ficaram embaçadas. Vimos então minha dificuldade, mas com duas espécies tentei fazer associações para pelo menos lembrar o nome científico, no caso do inhambu-relógio (Crypturellus strigulosus), falava para o Ricardo “esse não é aquele faminto?” e o outro foi com o cantador ocráceo (Hypocnemis ochrogyna) que não vou falar, pois é uma associação que não é permitida no blog, mas deixo para vocês imaginarem.


chora-chuva-preto (Monasa nigrifrons)


gavião-pedrês (Buteo nitidus)


Como estávamos em uma área enorme, com “muuuita” coisa para se ver, sempre depois do trabalho feito íamos para algumas áreas diferentes fazer o quê? Pescar! Como é bom pescar, eu ficava horas e horas e não pescava nada, para não dizer que não consegui pegar um peixe, pesquei uma piranha e um tucunaré mirrado, em um dia, por que no resto não vou nem comentar. Já o Ricardo, ele não passa fome. Ao todo ele deve ter pescado uns oito ou mais peixes. Além de pescar, passarinhávamos. Um dia, antes de pescarmos, fomos passarinhar e foi o caso quando conseguimos altas fotos do xexéu (Cacicus cela) com um ninho. O azar foi que não conseguimos tirar foto dele alimentando o filhote. Curió (Sporophila angolensis), garça branca grande (Ardea alba) e até jacaré.   Durante as pescarias era possível ver o gavião-belo (Busarellus nigricollis) , gavião de anta (Daptrius ater), anu preto (Crotophaga ani), sete-cores-da-amazonia (Tangara chilensis), pipira-vermelha (Ramphocelus carbo), pato-do-mato (Cairina moschata), periquitão maracanã (Psittacara leucophthalmus), quero-quero (Vanellus chillensis), tucano grande do papo grande (Ramphastos tucanus ), urubu de cabeça preta (Coragyps atratus), maria da praia (Ochthornis littoralis) ,  não tínhamos preocupação com a hora e nem com o tempo de permanência. Esses eram os melhores momentos, quando eu conseguia visualizar muito mais aves. Bati muuuito mais fotos e altos lifers (na verdade todas as aves que eu via eram lifers). O melhor de tudo é que eu também via mamíferos, como o porco-do-mato (Pecari tajacu,)  bandos de macaco de cheiro (Saimiri ustus), zogue-zogue (Callicebus brunneus), esquilo (Urosciurus spadiceus), ariranha (Pteronura brasiliensis). E o mais lindo de todos (quando eu disse que estava apaixonada por pica-pau não era brincadeira). Em um domingo de manhã, passarinhando eu e o Ricardo, fomos cada um para um lado, por que eu fui para o outro lado? Ouvi um pica pau *-*, estava eu linda, com a cabeça para cima, a boca aberta, procurando o pica-pau, de repente, um matinho se mexe na minha frente, eu congelei na hora e fiquei olhando uma lindeza a uns três metros de mim, me olhando de volta, adivinhem só? Uma Panthera onca (onça pintada), NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO, não era, queria eu que fosse, além de congelada eu estaria toda trêmula, mas era um lindo cachorro do mato (Cerdocyon thous), conhecido como raposinha. Ele andou na minha frente, parou e fez pose, eu ficava olhando com cara de apaixonada e foi lindo, eu ganhei meu domingo, não queria saber de mais nada. Eu amei estar em campo observando aves, tirando fotos, conhecendo os cantos, vendo que existem passarinhos tão mirradinhos com um canto muuuuuito louco e que acabam te encantando. Mas puxarei sardinha para o meu lado, toda vez que eu via algum mamífero, tanto na trilha quanto nas passarinhadas, eu perdia meu foco e ficava lá tirando fotos ou tentando tirar as fotos, rsrsrsrs.


xexéu (Cacicus cela

Jacaré

    quero-quero (Vanellus chillensis)
                                                       
maria da praia (Ochthornis littoralis)


cachorro do mato (Cerdocyon thous)



Vídeo com algumas fotos das passarinhadas 





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